seg
15
out
2012

(*) José Romero Araújo Cardoso

Frequentei bastante a residência de Zé Cavalcanti e dona Lina no bairro Miramar, na capital paraibana. Gostava de ouvir as potocas e piadas do velho sertanejo natural de São José de Piranhas.

Notando meu interesse histórico, Zé Bala me convidou para conhecer um distinto casal natural das alterosas do sertão de Princesa. Ela, de nome Hermosa Goes Sitônio, sobrinha legítima do “Coronel” Zé Pereira, e ele, de nome Zacarias Sitônio, de saudosa memória, era um autêntico Cardoso, sobrinho de um cunhado do chefe político Princesense.

Zacarias era um verdadeiro repositório ambulante de informações sobre períodos importantes da história paraibana. Hermosa, criada pelo casal dona Xandú – Zé Pereira, guarda segredos abissais sobre a campanha de 30, muitos, nota-se a olhos vistos, fazem-na sofrer nas recordações que, se pudesse, as esqueceriam.

Zacarias foi tabelião, prefeito de Princesa e deputado estadual, mas as marcas registradas do saudoso amigo eram a simplicidade, a autenticidade e a pureza em gestos de ternura, como o hábito de cultivar margaridas e compará-las à beleza de sua eterna namorada.

Vez por outra ele me confidenciava a amargura de ter presenciado tantos sofrimentos, ter visto tanta gente morta nos combates cruentos que encharcaram de sangue as belíssimas paisagens de Princesa.

Dotado de memória privilegiada, Zacarias Sitônio recordava aspectos físicos e psicológicos dos famosos cabos-de-guerra do “Coronel” Zé Pereira, os quais povoam milhares de páginas de livros, de jornais e documentos que atestam a estrutura de uma época marcada pela disputa pelo poder no sertão paraibano.

Homens como Marcolino, Luiz do Triângulo, Tocha, Caixa de Fósforo, Sinhô Salviano, Cícero Bezerra, João Paulino, Antônio Pereira, Lindu, Manoel Lopes “Ronco Grosso” , entre centenas de combatentes que empenharam a vida em defesa do Território Livre de Princesa, eram recordados, lembrados na dimensão exata dos papéis que desempenharam naqueles meses turbulentos que marcaram as refregas entre o exército de Zé Pereira e as tropas regulares paraibanas.

Posso afirmar que os conselhos de Zacarias Sitônio serviram bastante para moldar o meu caráter, pois ele só me ensinou a praticar o bem, a amar a Deus e ao meu próximo como a mim mesmo.

Zacarias, meu saudoso amigo Zacarias Sitônio, quantas saudades das nossas conversas de fim de tarde no belo casarão de sua propriedade em João Pessoa. Como suas dicas me são benéficas nos dias de hoje.

Não tenho dúvidas que Zacarias Sitônio se encontra à Direita de Deus Pai, pois neste plano ele se comportou como um homem justo e honrado!

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da UERN.


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Uma resposta para “Zacarias Sitônio”

  1. Elizeu Catita disse:

    Grande homem Zacarias Sitônio. Pena que Princesa não reconheça isso

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