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24
set
2015

Basinha é professora de flauta em Santa Tereza, o bairro bucólico e lírico do Rio de Janeiro. Ela devia abrir um curso de flauta nas férias

OTÁVIO SITÔNIOOtávio Sitônio Pinto

Não sei se estou revelando um segredo da Irmandade, mas só faltam quatro meses para a chegada de Zorba e Basinha à Praia Formosa. Presumo que não seja bem um segredo, pois todo fim de ano, ou começo do outro, eles saem de Santa Tereza – onde também mora Cecinha Cantinho – e vêm para o Mar da Paraíba, com a pontualidade dos seres migratórios, como as baleias e outros pássaros. Ia dizendo peixes, mas as baleias não são peixes.

Ia dizendo botos, mas os botos também não são peixes, são mamíferos como os bois e as vacas, de onde, dessas últimas, se extrai o leite, de cujo néctar se faz o maltado, o leite empacotado e tinto. É o particípio passado irregular do verbo tintar, ou pintar, que deu tinto e pinto. De vez em quando digo isso, para que os desavisados que leem minhas crônicas fiquem sabendo que o sobrenome retro nada tem a ver com as galinhas, mas com o verbo pintar. “Estás pinto”, disse Dom Afonso Henriques a seu aliado Paio Soares, quando viu esse todo ensanguentado ao fim da batalha. E Paio adotou o apelido.

Basinha é professora de flauta em Santa Tereza, o bairro bucólico e lírico do Rio de Janeiro. Ela devia abrir um curso de flauta nas férias, quando viesse ao Mar da Paraíba na sua pontual passagem de ano. E Zorba ministraria um curso de fotografia (é um dos maiores fotógrafos de Santa Tereza, do profundo Mar da Paraíba e do mais profundo Raso da Catarina). Bem que Sivuca chamava à sua Paraíba de “a Viena do Brasil”. Ele vai virar gibi, por artes do livreiro Carlos Roberto Oliveira, que está fazendo uma coleção de quadrinhos com os vultos do Mar (da Paraíba, quero dizer). Fui eu que fiz o texto de Sivuca, o Beethoven de Itabaiana.

Assim como … [não vou dizer outro, pois estaria revelando mais um segredo da Irmandade]. Eles não gostam de ter seus segredos revelados, ninguém gosta. Desde… “aqui del Reey, y de la sagrada ermandade” [a primeira polícia do mundo].

Tomara que nessa passagem de ano tenham resolvido o problema do areal de Formosa, onde todo dia e toda noite atola carro. O meu atolou, ou “se atolou-se”, como disse um político de Campina Grande, pois o carro não ia pra frente nem pra trás. “No fim do ano eu e a mulher nós vai para a América”, anunciou o político a um intelectual campinense. “Nós vai, não”, Seu Fulano; nós vamos. “Você diz nós vamos, mas não vai; agora eu digo nós vai e vai mesmo”. Foi. Como aquele empresário que não pagou aos funcionários, mas foi à Disney. Os velhacos gostam de ir à Disney. Sei de outro que não pagou a escola da filha “para ir à Disney”. Esse assumiu.

Quando Zorba [Antônio Augusto Fontes, para os muito íntimos), aquando ele chegar, irei tomar um guaraná Sanhauá na desembocadura do rio (será por isso que servem o refrigerante na desembocadura da padaria, tão concorrida?]. “Guaraná Sanhauá, o guaraná”, dizia Pascoal Carrilho, o locutor que transmitiu o enterro do Doutor Napoleão Laureano “de dentro do túmulo” ­ quando o empurraram. Pascoal tinha um patrocinador permanente, a aguardente Praianinha, por trade fidelity. “Eu tomo Praianinha, Penha Maria [uma cantora dos velhos tempos] toma Praianinha” [ela no palco]. – Cachaceiro – gritou um gaiato do auditório. – “A mãe do cidadão ali toma Praianinha”.

Quando caiu no túmulo: “… Doutor Napoleão tomava Praianinha!”

Não sei se estou revelando muitos segredos. Mas os botos costumam sair por obra do fim da tarde, polas cinco. Como se fossem uma esquadra, para cercar os peixes no encontro do Rio Sanhauá com o Mar da Paraíba, no lugar onde a Fortaleza de Santa Catarina fica a padrasto dos dois, ou à madrasta.

À padrasto da padaria, e da Matriz de Cabedelo, onde rezavam missa os padres Ernando Teixeira e seu “Tio Padre”, o padre Alfredo Barboza. O Padre de Cabedelo se antecipou a Francisco nas suas posições de vanguarda – fundou um Sindicato das Dançarinas [que era um sindicato de trabalhadoras do sexo]. Casava os impedidos, os amancebados [no seu tempo não havia divórcio] e amigados como eu. Estou revelando muitos segredos; mas, se eu não disser, ninguém diz.

Padre Ernando, meu confrade do Instituto Histórico, está empenhado na beatificação do Padre Ibiapina, lá do Ceará, escrevendo a biografia do santo. Talvez tenha ficado encabulado em escrever a biografia do “Tio Padre”. Mas, se a gente não se lembrar dos nossos, ninguém se lembra dos seus, dos teus nem dos meus. Do santo do Ibiapina, do Juazeiro, dos Mártires do Piancó. Ninguém.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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Uma resposta para “Segredos”

  1. CARLOS PARADA disse:

    Um exímio Artesão da Palavra, desde sempre.

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