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10
set
2015

OTÁVIO SITÔNIOOtávio Sitônio Pinto

Os “horns” são recusados pelos filhos das famílias brancas que não querem ver seus rapazes e rapaças na ribalta

A crise não chegou ao futebol. A Seleção Brasileira está voltando aos seus tempos de glória. Também, pudera: tem dois paraibanos no time. Hulk voltou a brilhar na equipe de Dunga. Finalmente o técnico acertou com o lugar do atacante, escalando ele como centroavante, em vez de deixá-lo como volante, à frente dos zagueiros. Dunga mostrou que pode ser a dupla de ataque de Neymar Júnior, formação que fez falta nos jogos da Seleção na malfadada Copa dos 7 X 1.

O outro paraibano entre os convocados de Dunga foi Douglas Santos, lateral esquerdo do Atlético mineiro. Ele tanto ataca como defende, e está em alta na cotação brasileira dos jogadores de primeiro time. Inda mais com uma vantagem grande: é jovem de 21 anos. Tem tempo para evoluir e mostrar seu futebol ao mundo, já nas eliminatórias para a próxima Copa, quando o Brasil contará com novos atletas como Lucas Lima, Miranda e outras estrelas jovens.

O resultado foi que o Brasil voltou a jogar e ganhar como nos bons tempos. Venceu folgadamente a seleção ianque por 4 X 1, e poderia ter sido por um escore maior, se o time não tivesse se acomodado com a diferença de quatro gols, quando podia ter ampliado o placar. Nos minutos finais, a equipe norte-americana “gostou do jogo” e mostrou um ataque eficiente, marcando seu gol de honra. – mais pelo relaxamento do time brasileiro.

E o jogo foi lá, em Nova Jersey, com a equipe gritando “iú esse êi, iú esse êi” o tempo todo, mas educadamente. Uma torcida civilizada, que não xingou nossos morenos nem jogou bananas nos craques. Também o time deles apresenta um composto multirracial, com alguns elementos fortes à maneira de Hulk, mais parecendo lutadores de boxe, pesos pesados, negros como são os campeões.

O mercado norte-americano oferece aos jovens negros a oportunidade de ganhar um bom dinheiro e fama no boxe. Daí a marcante presença de negros no ringue, um espaço cruento que os jovens brancos recusam – pois dar a cara a bufetes não é profissão que atraia os “bem nascidos”. E os extratos mais pobres da população são compostos de negros, pois a abolição ainda não se processou satisfatoriamente, lá como cá. Os negros não têm acesso ao mercado profissional como os brancos, pois não frequentaram as melhores escolas nem tiveram em casa um ambiente intelectual.

Daí a presença negra dominante no boxe e no blues, e, agora, no futebol. Soprar saxofones, trompetes e trombones não é bem profissão para “filhos de família” principalmente se a família for branca, americana e protestante. Assim, os “horns” são recusados pelos filhos das famílias brancas, que não querem ver seus rapazes e rapaças na ribalta e no ringue, perto dos negros.

Pois até os instrumentos têm raça. O grande Charles Mingus começou seu aprendizado musical tocando violino, até quando ouviu de seu mestre a observação: “Mingus, toque um instrumento de negro”. E ele optou pelo contrabaixo, sem fechas as mãos para o piano – pois esse também pertence à sessão rítmica. Agora, os jovens negros de USA estão contando com mais essa abertura, a do futebol. Como no Brasil.

Mesmo assim, a sorte não bafejou a equipe do Tio Sam no jogo de terça-feira contra o Brasil, levando ao 4 X 1. Resultado justo, pois os brasileiros jogaram como nos bons tempos. Não tanto como quando contava com Pelé e Garrincha, que essa é uma dupla que só se encontra num time de anjos, com os santos torcendo pelo Brasil. Mas os atletas brasileiros se saíram bem, nas sessões rítmicas, melódicas e harmônicas, num jogo educado, sem violências, onde as duas bandas puderam mostrar o samba e o blues.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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