A reprogramação de células-tronco tem combatido os sintomas de pacientes com esquizofrenia. Após constatar que neurônios de pacientes com a doença consomem mais oxigênio que as células saudáveis do sistema nervoso, a equipe coordenada pelo pesquisador biomédico Stevens Rehen tem testado um tipo de medicamento capaz de reverter o problema.
A técnica da reprogramação celular, usada em laboratório pelo pesquisador, foi criada em 2007 pelo ganhador do Prêmio Nobel de Medicina, Shynia Yamanaka. Com o método, é feita uma biópsia do paciente com um pedaço da pele, de onde é extraída uma célula que posteriormente criará um tecido saudável.
"Não se usa necessariamente uma célula da pele, o fibroblasto, mas esta é uma forma mais fácil do procedimento e assim a transforma no que está interessado em estudar ou recriar", explicou Rehen, em palestra durante a 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Realizado desde 1948, o encontro tem o objetivo de difundir os avanços da ciência e debater políticas públicas para área.
O biomédico destacou que a esquizofrenia é uma doença que afeta 1% da população mundial e está associada à má-formação do sistema nervoso. Apesar de não existir consenso sobre as causas, há indícios de que o estresse oxidativo tenha papel fundamental na geração da doença. O sintoma ocorre quando as defesas antioxidantes do corpo humano falham no momento da respiração.
Apesar do sucesso nas pesquisas em laboratório, Rehen destaca que ainda não foi descoberto ou criado um novo remédio para o combate à esquizofrenia. “É importante frisar que esse fato não significa que se descobriu nenhum medicamento, só foram abertas possibilidades. Agora podemos fazer uma triagem de centenas de medicamentos", declara. Ele lembra que o método não é eficaz para todos os pacientes com esquizofrenia, pois as pessoas podem ter sintomas completamente diferentes.
Rehen explica que existem vários tipos de células-tronco, sendo que as embrionárias têm a maior capacidade de geração ou regeneração de órgãos, pois permite a formação diferentes tecidos do paciente. No caso da pesquisa, a célula foi reprogramada como um neurônio.
“Células-tronco reprogramadas são uma forma de voltar à célula de um adulto. Quando se abre essa ‘caixa de pandora’ e transforma essa célula da pele em outra que tenha a capacidade de gerar qualquer tecido, se abre uma série de possibilidades experimentais e eventualmente terapêuticas”, aponta Rehen.
Segundo Rehen há centenas de doenças sendo estudadas por todo mundo com as técnicas de reprogramação celular. Com o estudo de células-tronco também há pesquisas para criação de órgãos sob medida, “personalizados”. “É possível hoje em dia, em laboratório, retirar as células do coração de um animal, deixar a ‘matriz’ e introduzir nessa carcaça células-tronco que vão repovoar aquele órgão fazendo um coração novo. Se trata de um órgão personalizado, já que vai ser eventualmente transplantado no animal. Quando se pega uma célula reprogramada, além de tudo, diminui o risco de rejeição.”
No futuro, será possível uma medicina individualizada, pois a célula embrionária é criada com as células do próprio paciente. “Será possível, inclusive, a criação de órgãos sob medida por impressoras em 3D”, avalia. Mas o pesquisador garante que ainda não há prazo para que essa nova tecnologia seja colocada em prática e alerta para o “turismo de células-tronco”.
“É um problema mundial. Pessoas desenganadas com problemas graves, cuja medicina atual não é capaz de resolver, identificam sites e locais que prometem a cura imediata. Basta ir até o local e receber uma injeção de células-tronco. São pessoas que saem de grandes centros pagando, às vezes, U$ 30 mil para receber um medicamento que não tem nenhuma comprovação científica e, na maior parte dos casos, pode ser perigoso”,orienta.
A reunião da SBPC continua nesta quinta-feira (25) com palestras sobre doenças autoimunes, com o professor de medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Luiz Eduardo Andrade, às 10h30. No período da tarde, entre os destaques está a mesa-redonda Integridade Científica, Financiamento e Comunicação da Ciência: Novos Tempos?, com os pesquisadores Paulo Beirão (CNPq), Ricardo Bacelar (UFC) e Sonia Vasconcelos (UFRJ).
Agência Brasil