“Dizem que aquele som que se ouve nos filmes de guerra, em pleno combate, é Glenn Milller e sua orquestra tocando no front”
Otávio Sitônio Pinto*
A glória cobra tributo na forma de azar. Foi assim com Glenn Miller (Alton Glenn Miller, 01/031904, 15/12/1944): pereceu num acidente aéreo sobre o Canal da Mancha. Por muito tempo ignorou-se as causas do acidente, enfim reveladas: um grupo de cerca de 100 bombardeiros Lancaster da RAF retornava para a Inglaterra e soltou as bombas que não tinha despejado na Alemanha. Era vedado às tripulações pousarem com seus aviões carregados de bombas – conforme revelou Fred Shaw, navegador de um dos aviões que fazia parte da missão abortada. O avião em que Glenn Miller voava de Twinnwood a Paris (um Noorduyn Norseman, do exército dos EUA) passava em baixo do grupo amigo, e foi atingido pelas bombas dispensadas. Fire friend.
Nunca ninguém achou sequer um pedaço do avião, de seus tripulantes e passageiros. Naquele tempo não havia caixa-preta. Faltavam menos de cinco meses para o término da guerra, mas as nornas de Miller não esperaram e levaram o grande trombonista, compositor, arranjador e bandleader. Ia completar 40 anos. Durante a guerra, Miller se apresentava com sua orquestra tocando para as tropas em repouso. Gaiatos dizem que aquele som que se ouve nos filmes de guerra, em pleno combate, é Glenn Milller e sua orquestra tocando no front.
Nove anos antes havia morrido Carlos Gardel, em 24 de junho de 1935, num desastre aéreo em Medelín, na Colômbia, em que o cantor pereceu com toda sua banda e seu parceiro Fernando Le Pera – brasileiro do bairro do Bexiga, São Paulo, de onde teria ido para Buenos Aires aos dois anos de idade. O nascimento de Gardel (Charles Romuald Gardès) é controvertido. Alguns biógrafos dizem que ele nasceu no Uruguai, em Tacuarembó, filho do chefe político Carlos Escayola e da menor Maria Lelia Oliva, de 13 anos. Mãe e filho teriam ido para Buenos Aires quando Gardel tinha dois anos, como seu futuro parceiro Le Pera. Outros dizem que Gardel nasceu em Toulousse, filho de Berthe Gardès e de pai desconhecido, e teria ido para Buenos Aires aos dois anos, como Lepera.
O cantor e compositor morreu no auge da glória. No entanto, eu maior sucesso – El dia que me quieras – é inspirado nos versos do poeta e romancista mexicano Amado Nervo (João Crisóstomo Ruiz de Nervo), nascido em Nayarit, México, aos 27 de agosto de 1870, e falecido em Montevidéo, Uruguai, aos 24 de maio de 1919. Gardel comprou os direitos autorais à família de Amado, que já havia falecido, e Le Pera deu o toque final à peça, sucesso até hoje.
O Brasil, pátria de Le Pera, ainda perdeu outros músicos em trágicos acidentes. Comoveu o país a morte de Francisco Alves (Chico Viola), em 27 de setembro de 1952, aos 54 anos, em acidente de automóvel, atingido por um caminhão que entrou na contramão. Filho de portugueses, Chico Viola foi o mais popular dos cantores brasileiros.
Com a carreira em plena ascensão, morreu todo o grupo das Mamonas Assassinas – quando o avião em que viajavam chocou-se contra um morro, matando todos os tripulantes e passageiros. Ainda hoje não se sabe a causa do acidente. O grupo estava de viagem marcada para Portugal, aonde ia se apresentar, quando ocorreu o acidente.
Agostinho dos Santos foi um cantor brasileiro de projeção internacional. Morreu num acidente aéreo, em 11 de julho de 1973, a um quilômetro do aeroporto de Orly, na França, quando morreram também a atriz Regina Léclery, o iatista Jorge Brüder e o senador Filinto Müller – que foi chefe do Dops durante a ditadura de Getúlio, quando torturou e matou muita gente, e foi líder do governo no Senado durante a ditadura militar de 1964-1988. Ao todo, foram 123 mortos no voo 820 da Varig. Somente um passageiro e dez tripulantes sobreviveram. O baixo astral de Filinto contaminou a todos.
Você conhece “Perfídia”, na voz de Agostinho dos Santos? Acesse!
*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.