Da Prefeitura de Princesa Isabel - via e-mail do Gabinete do Prefeito remetido ao Blog – recebi uma nota com pretensas explicações sobre a polêmica e igualmente desastrada iniciativa da administração tucana em instalar no espaço do ex-quase-futuro Museu Histórico de Princesa Isabel um Polo Regional da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Por adotar uma diretriz editorial plural, democrática, publico, a seguir, o tal esclarecimento, a despeito de (ainda) não ter postado nada sobre a inaceitável implantação do armazém de cereal num ambiente legal, original e exclusivamente destinado à cultura (?!).
Neste mesmo espaço publico, ainda, artigo arguto, irretocável, que tem a dimensão de um manifesto antológico em defesa da preservação da cultura como valor universal, de autoria do prestigiado historiador princesense Francisco Florênico, que rebate, de forma dialética, os ‘argumentos’ da versão oficial, como também aprofunda o debate sobre a questão cultural, com acento apropriadamente antecipado de réquiem ( requiem aeternam – ‘repouso eterno’):
Nota sobre a instalação da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento, em Princesa Isabel – PB
Motivados pelas notícias divulgadas na mídia digital e imprensa audiovisual, sobre a implantação do Polo Regional da CONAB no nosso município, vimos a público apresentar explicações sobre a importância deste implemento para a região assim como as dificuldades encontradas e os critérios utilizados para solucioná-las.
Devemos, inicialmente, informar que o projeto de implantação da CONAB iniciou-se ainda em 2013, quando enfrentávamos uma estiagem considerada das maiores da história recente brasileira. Nossa proposta foi considerada relevante e recebida com a atenção necessária pelo órgão.
Fomos, consequentemente, comunicados pela CONAB da aprovação do nosso pleito, que deveria ser contemplado em forma de parceria, ou seja, mediante contrapartidas oferecidas e cumpridas pelo município. Uma delas, como nos oficializou o órgão federal convenente, seria a disponibilidade de instalações condizentes para armazenar alimentos em grande quantidade, de forma segura e livre de contaminações, bem como receber dignamente os inúmeros criadores e agricultores de toda a região, verdadeiros beneficiários deste novo e importantíssimo investimento.
O órgão também nos comunicou que precisaria de uma solução imediata sobre a escolha desse local para a instalação do polo, pois estava com a disponibilidade de 500 (quinhentas) toneladas de milho para distribuição imediata, com a carga já em trânsito.
Encontramos imensa dificuldade para a acomodação da nova instituição, situação muito comum no interior do país, pois os municípios pequenos como o nosso não possuem edifícios suficientes para a instalação de órgãos públicos, inclusive secretarias.
Identificamos, então, a possibilidade de utilização de parte do prédio onde funcionou a antiga SAMBRA. A referida edificação tem três pavimentos (blocos), dispostos lado a lado, e apresenta detalhes arquitetônicos diferenciados, o que possibilitou o seu tombamento pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico da Paraíba – IPHAEP.
Sua reforma foi iniciada no início dos anos 2000, mediante convênio com o Governo do Estado da Paraíba, porém ainda não concluída por questões técnicas de execução do projeto. Diante da enorme demanda de espaço, o Poder Judiciário permitiu a conclusão das obras com a utilização de recursos próprios ou conforme a formalização de novos convênios, o que foi cumprido pela gestão anterior, com o objetivo de implantar a Biblioteca Pública Municipal, no bloco n° 03 e o Espaço Nordeste, no bloco n° 01, mediante convênio com o Banco do Nordeste do Brasil.
Foi decidido, diante da urgência advertida pela CONAB, armazenar os alimentos já disponibilizados no bloco n° 02, de forma temporária, até que se encontre ou se construa um espaço definitivo para a instalação do Polo.
Deve-se ressaltar que este prédio, no que se refere, especificamente, ao bloco n° 02, em nenhum momento, abrigou o Museu Municipal, como foi injustamente divulgado por blogueiros e mídia em geral. A edificação, verdadeiramente, não teve suas obras concluídas para a instalação do referido museu. Não possui, ainda, o piso apropriado, assim como instalação elétrica e hidráulica condizentes para este tipo de empreendimento cultural. Não há divisórias, banheiros, etc. Trata-se, tão somente, de um vão livre que estava inutilizado e que foi, temporariamente, ocupado por uma instituição de extrema importância para o desenvolvimento agropecuário de toda a região.
A CONAB é uma realidade e veio para ficar, para a imensa alegria de toda a população regional e para a tristeza de quem torce contra o nosso desenvolvimento, porque pratica a política do quanto pior melhor.
O Museu, ponto maior de discussão, será efetivamente instalado, no tempo certo, da forma correta, no prédio a que foi destinado, de acordo com os critérios exigidos para esse tipo de empreendimento, para orgulho do povo princesense e paraibano.
Por fim, devemos deixar claro que, absolutamente, todos os investimentos realizados por esta gestão serão concretizados sob o amparo da legislação brasileira e com o devido e total respeito ao cidadão.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PRINCESA ISABEL
GABINETE DO PREFEITO
NOTA SOBRE A AMEAÇA DE ALZHEIMER COLETIVO DOS PRINCESENSES
Aos conterrâneos princesenses:
Recebi – via Tião Lucena – a nota do Chefe de Gabinete da PMPI sobre a recente implantação do polo da Conab no prédio que originalmente estava destinado ao futuro (bota futuro nisso) Museu de Princesa. Bem elaborada, explica, justifica, mas não foi ao âmago da questão levantada por todos que tem uma visão diferenciada da questão cultural em nosso Município. Alem disso, de forma distorcida, apresenta a situação real do que aconteceu com o projeto Museu de Princesa, e tenta aliviar a falta de ação para dar continuidade ao projeto iniciado em 2005, com bonita frase de efeito, ao afirmar que “O Museu, ponto maior de discussão, será efetivamente instalado, no tempo certo, da forma correta, no prédio a que foi destinado, de acordo com os critérios exigidos para esse tipo de empreendimento, para orgulho do povo princesense e paraibano.” Odorico Paraguassu continua fazendo escola!
A importância, a urgência e a solução dada para implantação do polo da Conab não está em discussão. O que chamou a atenção e provocou a reação de todos que ainda acreditam que Princesa precisa e quer um espaço para cultuar sua história, foi a ocupação daquele espaço nobre e oficialmente destinado para templo da cultura princesense, para uma função totalmente diferente do previsto. E sem nenhuma explicação do caráter emergencial e transitório da operação Conab, só agora dada. É como se uma Igreja em construção, ainda que inacabada, de repente servisse a deposito de cimento, grãos ou qualquer outro produto, deixando a impressão que a mesma não mais serviria a seu destino inicial, para desconforto e desesperança dos crentes, que nela aguardavam ansiosamente acontecer um lugar de culto e oração.
Assim, explica-se a reação dos que ainda rezam que “nem só de pão vive o homem”, e que reagiram pelo que vem acontecendo ao esperado “templo” da história de nossa terra. Some-se a isso, que nada está sendo feito para completar o projeto iniciado em 2005 para instalar naquele prédio (que muito antes de ser SANBRA, foi o primeiro prédio industrial de Princesa, as Usinas Reunidas José Pereira Lima) o Museu de Princesa, dentro de um conjunto que formaria o Espaço Cultural Princesense. A instalação da biblioteca municipal, e a cessão ao BNB para criar o Espaço Cultural não causaram nenhum reboliço, pois são atividades afins da vocação cultural prevista para o local.
Em recente contato com o Governador e Vice-Governador, na sua ultima visita quando da recente plenária do Orçamento Democrático em Princesa, comentei com eles que precisávamos avançar no projeto original de criação do museu de Princesa, o que exigia resolver o “imbróglio” decorrente da falta de prestação de contas da 1ª etapa desse projeto, e que estaria bloqueando a execução das outras duas etapas subsequentes, além de estar bloqueando qualquer possibilidade de se ter recursos alocados pelo Estado para esta finalidade (nos governos Maranhão/Thiago foram alocados recursos que não puderam ser utilizados por falta dessa prestação de contas). A resposta do Governador e do Vice foi de que nada havia sido pedido e eles desconheciam esta situação. Ou seja, nenhum pleito foi encaminhado neste sentido, nesta e nas gestões anteriores.
Alem disso, a nota confirma que a questão está judicializada, ao afirmar que “o poder judiciário permitiu a conclusão das obras….”. A nota erra e tenta esconder a origem dos problemas, ao afirmar que as obras não foram concluídas “por questões técnicas de execução do projeto “ (sic). A acusação de desvio de verbas destinadas a primeira etapa datam de longa data, dentre elas as de nº 14075/09 e 03072/10 junto ao TCE, oferecidas pelo então vereador Domingos Savio, na época “defensor dos valores da cultura” e operoso fiscal da honestidade (dos outros) na aplicação dos recursos públicos. Existe mais uma ação promovida pelo Ministerio Publico, por origem de denuncias do mesmo referido ex-vereador, no mesmo sentido ( a qual não tive acesso).
Finalmente, eu, possuidor de vasto acervo documental acumulado ao longo de anos de pesquisa sobre a historia do município, sem enxergar “uma luz no fim do túnel” decidi transferir todo este acervo para o Instituto Historico Geografico Paraibano, em João Pessoa, com especial ressalva de que sua futura transferência para museu ou arquivo público em Princesa, se faça após criteriosa avaliação das condições técnicas e organizacionais do que venha a ser instalado em Princesa. Enquanto isso, a história de Princesa continuará a ser preservada nas conversas de calçadas e nos botequins, ou nos raros livros existentes ou a serem ainda produzidos sobre o tema, até que nem isso reste, e tudo caia no esquecimento definitivo. A punição para estes que não cumprem seus papeis de promover e guardar a memoria coletiva, a historia de nossa comunidade, será a de que também terão suas biografias e seus feitos esquecidos no vazio que se formará pela falta de politicas públicas de resguardo dessa memória. Seremos todos definitivamente mortos e enterrados, juntos com Chico Soares, Alcides Carneiro, Antonio Nominando, Coronel Zé Pereira, Dona Natalia, e tantos outros. E para completar, neste Alzheimer coletivo de nossas origens, prevejo que um futuro e ilustre vereador proporá mudar o nome de nossa terra, de Princesa Isabel para Babilônia ou Sodoma, ou Noviorque (se eu vivo for, vou propor Perdição).
Já não fará diferença para ninguém.
Francisco Florencio – aprendiz de historiador
Princesa Isabel (ex-Perdição) – maio de 2014