“Todas as mulheres devem aprender a se defender, para garantir sua integridade e de sua família”
Otávio Sitônio Pinto*
Sou a favor da mulher aprender a se defender com unhas e dentes, socos e pontapés, cabeçadas e pescoções, rasteiras e voadoras. Por isso e para isso, botei na academia de karatê minha filha caçula quando ela fez oito anos (os oito anos de Casimiro de Abreu). Quando ela completou quinze, recebeu a faixa-preta. Já é mestre, ou mestra, como quer a presidente(a). Assim foi o début da minha caçula.
Ela já ganhou medalhas em campeonatos regionais, como o Norte-Nordeste. Treina com os rapazes. Minha caçula é uma rapaça (como se diz no doce idioma galego) quase do meu tamanho. Dá voadoras formidáveis. Se pegar na testa, fratura o pescoço; se pegar no pescoço, fratura a traqueia; se pegar na fronte, AVC. É morte certa; em karatê não se bate para aleijar, mas para matar. Se algum meliante se meter a besta com minha sansei (mestra), vai rasgar a boca. Um golpe de mão no abdômen, por baixo do coração, mata um.
Quando vou ao banco tirar minxaria mais acrescentada, levo a pirralha comigo. Digo: “fique um pouco mais afastada, para tomar embalagem para a pernada; não dê para aleijar.” É filha obediente, faz meus gostos. Atleta para ninguém botar defeito: aprendeu a nadar antes de aprender a andar. Porque eu botei na escola de natação quando ela tinha poucos meses. Não só para não morrer afogada, mas para ganhar resistência física. Os ombros estão desta largura, mais largos que os meus.
Agora, minha caçula está querendo aprender a atirar. Já perguntei no Clube de Tiro, onde sou sócio, se ela pode. Pode. Triste do cabra que tentar alguma violência contra minha caçula, seja bandido ou marido. Vai se lascar. Se escapar, eu pego. Aqui em casa não gostamos de ocupar o Estado: a mãe da minha caçula também treinou karatê e pegou faixa. E meus rapazes? Treinaram jiu-jitsu, mas não tiveram a constância da minha caçula. Mas dão para o gasto; são fortes, e sabem aplicar um mata-leão.
Um dos meus rapazes passou em dois concursos de delegado, vai ser um baita agente da Lei. É um cara dez centímetros maior que eu, que não sou pequeno. Um murro dele vale por um tiro de 12. As pessoas precisam aprender a se defender, pois moramos no Brasil, um dos países mais perigosos do mundo. A federação dos sindicatos dos delegados civis brasileiros publicou uma nota, quando ia ser votado o Estatuto do Desarmamento, dizendo que a polícia não tinha condições de dar segurança aos cidadãos.
Mas os parlamentares brasileiros preferiram aprovar o Estatuto do Desarmamento, que proíbe o cidadão, o pai de família, o trabalhador, o eleitor de andar armado, e deixa o homem e a mulher de bem à mercê da bandidagem. E o que é pior: deixa a cidadania impotente diante das forças golpistas. Por isso minha caçula é faixa-preta, uma herança que deixo para ela. Quando eu fechar os olhos, ela saberá se defender sozinha.
Todas as mulheres devem aprender a se defender, para garantir sua integridade e de sua família. As mulheres cubanas são maioria no exército popular de Cuba, pois lá, como aqui, há mais mulheres que homens. Toda cubana adulta sabe manejar bem um fuzil AK-47 (agora 74), que guarda em casa, junto com a munição e a farda. O exército de milícias de lá é assim, toda a população adulta é reservista armada, formando o maior exército do mundo (sete milhões e meio de soldadas e soldados).
A História do Brasil é feita de golpes e quarteladas: o golpe da Independência, o golpe da República, a quartelada de 22 (os dezoito do Forte), o golpe de 30, a intentona de 35 (outra quartelada) o golpe de 37, o golpe de 45 (contra Getúlio), o golpe de 54 (contra Getúlio), os golpes contra JK, que derribaram os presidentes Café Filho, Nereu Ramos e Carlos Luz, as intentonas de Jacareacanga e Aragarças (contra JK); o golpe de 64, o golpe de 68 (um golpe dentro do golpe, como o de 37).
As mulheres do Brasil deviam fazer como as cubanas, aprender a brigar para neutralizar os golpistas machistas.
*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.