A súcia da Operação Brother Sam, da CIA, estava apoiando o candidato da TFM, TFP, UDR, DOI-Codi, Oban, MRA, Ibad, Arena, PDS, AI-5
Otávio Sitônio
Um leitor de maior gabarito reclamou do que ele considera minha postura de apoio ao partido do governo. Ora, a eleição passou, o palanque foi desmontado, e eu não sou de partido nenhum – pois deixei a política faz um bom tempo, quando o PCdoB votou a favor do desarmamento popular. Portanto, não faço parte do MAG – Movimento de Apoio ao Governo.
Durante a campanha fiz minha confissão de voto: no primeiro turno foi em branco. É assim que voto há muitos anos, pois não gosto de votar. Minha linha é outra. Mas no segundo turno, o candidato da UDR (União Democrática Ruralista) estava perigando ser eleito. E dei o óbolo da viúva de meu voto à outra candidatura, pois não podia votar no mesmo candidato do CCC –Comando de Caça aos Comunistas. Lembra-se? Era uma organização paramilitar que dava fim às pessoas da esquerda, na última ditadura.
Não sou a favor de uma reforma agrária distributiva, como pretende o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Marx, eu e Lênin somos contra essa dita reforma. Se a esquerda lesse o “18 de Brumário”, de Karl Marx, não advogaria a reforma agrária pretendida. Pois não é o tamanho da propriedade que é ruim, mas a propriedade em si. Já o grande camarada Lênin dizia que “é mais fácil tomar de um que de mil”. Uma reforma agrária distributiva gera uma multidão de proprietários.
Eu não podia votar no mesmo candidato da TFM – Tradicional Família Mineira, golpista que só ela, o braço beato da Ditadura, da Marcha com Deus pela Liberdade. Não podia votar no candidato apoiado pela TFP (Tradição, Família e Propriedade). Você acha? Nem pelo MRA (Moral Rearmament), a organização internacional que estava por trás do Ibad (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), instituição financiadora dos canditatos da direitona.
Pergunte aos caras do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) em quem eles votaram. O DOI era o organismo da Ditadura encarregado de prender, torturar e matar o pessoal da oposição ao regime. Eu não podia votar com eles. Nem com a turma da Arena (Aliança Renovadora Nacional), nem com o PDS (Partido Democrático Social) – os partidos dos gorilas.
Pergunte aos verdugos do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e da Oban (Operação Bandeirantes), o Dops da ditadura de Getúlio Vargas e a Oban da ditadura de 64, em quem votaram. Se você perguntar aos caras do SNI (Serviço Nacional de Informações), eles vão dizer que sufragaram o candidato da UDR, da TFP, TFM, Doi-Codi, Oban, MRA, Ibad, Arena, PDS etecetera.
Eu não podia votar com eles, os integralistas, fascistas, nazistas, neonazistas. Essa gente votou pela volta do golpe. Aqueles carecas dos skinheads votaram no candidato da oposição. Os arapongas e araques também, sem exceção. Os quintas-colunas, os dedos-duros, todos os torturadores. Eles são antigos, vem da Coluna do Templo e do Altar, o movimento que pretendia restaurar a monarquia no Brasil.
Você conhece alguém da marinha norte-americana? Dos Marines? Eles sabem explicar o que foi a Operação Brother Sam – a prontidão que a Frota do Caribe ficou, em pé de guerra para invadir o Brasil em 1964, caso o golpe tivesse dificuldade. A súcia da Operação Brother Sam, da CIA, estava apoiando o candidato da TFM, TFP, UDR, DOI-Codi, Oban, MRA, Ibad, Arena, PDS, AI-5 etc, etc.
Até a Ku Klux Klan foi chamada a agir. Pois aquele pessoal que é contra as cotas para afrodescendentes nas escolas e concursos públicos é orientado pela Ku Klux Klan. Ora, os afrodescendentes deveriam gozar também de outros benefícios indenizatórios do tempo em que seus avoengos trabalharam de graça debaixo do bacalhau (aquele chicote com pontas de pregos) e de toda humilhação e aviltamento.
As alíquotas dos impostos, a contribuição previdenciária, o tempo de aposentadoria, devem ser menores para os sobreviventes da escravidão. A Ku Klux Klan me quer a favor do cordão dos senhores de engenho, de Ioiô, de Iaiá. Mas eu sou de Umbanda, sou de Jurema. Não posso trair a bela raça.
*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.