“Diz-se que o cavalo de Troia custou uma fortuna, foi superfaturado. Mas os gregos precisavam ganhar a guerra a qualquer preço”
Otávio Sitônio
Um dos envolvidos no escândalo da Petrobras disse que o pagamento de propinas vem de longe, vem de governos anteriores, e citou nominalmente os governos de Lula, Fernando Henrique, Collor etc. O executivo não disse nada de novo. Todo mundo sabe que no Brasil é assim, e lá fora também. Há algumas décadas, um príncipe europeu recebeu uma gorda propina para intermediar a compra de aviões de guerra pelo seu país. No Japão houve um caso semelhante. Num país sul-americano também, e os aviões eram da Embraer. Deu no jornal.
Isso são fatos que se sabem, histórias que vieram a público. E o que não se sabe? Um dos advogados dos envolvidos na Petrobras disse que nada no Brasil era feito sem propina, não se botava um paralelepípedo na rua sem o pagamento de propina. Não disse nada de novo, todo mundo sabe disso. Mas é muito importante que se diga no processo para que o Ministério Público e a Justiça saibam oficialmente. Essa esculhambação é muito antiga.
Na Guerra do Paraguai, o Brasil perdeu as primeiras batalhas porque o exército estava mal equipado. Não tinha sequer cavalos, embora esses animais tivessem sido comprados. Mas eles só constavam na contabilidade, não estavam na baia. E eram muitos cavalos, pois havia os da cavalaria e os cavalos da infantaria montada. Aqueles cavalos que aparecem no quadro de Pedro Américo, do Grito do Ipiranga, servindo de montada para os Dragões da Independência, são da infantaria montada.
Os Dragões da guarda pessoal de Dom Pedro eram infantes montados, não eram cavalarianos. No Exército havia muitos deles. Mas, quando começou a guerra, as tropas destacadas no Rio Grande do Sul estavam sem cavalos, embora as alimárias tivessem sido compradas. As montarias que havia eram de péssima qualidade. Cavalos mancos e banguelas, com tempo de aposentadoria, comprados por qualquer moeda furada, mas que tinham preço na contabilidade. Os cavalos dos quarteis eram quartais, capados, não serviam para a guerra.
Diz-se que o cavalo de Troia custou uma fortuna, foi superfaturado. Mas os gregos precisavam ganhar a guerra a qualquer preço, pois a rainha deles estava lá dentro, fornicando. Foi o chifre mais caro da História. Quantos peões morreram por causa de Helena? A questão deveria ter sido resolvida entre Páris, Heitor e Menelau, mas recrutaram os pobres do povo para fazer a guerra. E gastaram uma nota. Muitas moedas, pois naquele tempo não havia notas. A cangalha do cavalo foi caríssima.
Assim as obras no Brasil e as despesas do governo. O executivo da Petrobras choveu no molhado quando falou em rodovias, ferrovias, hidrelétricas, portos, aeroportos, hospitais, escolas etc. Há tempos foi constatado que o aeroporto de Maceió foi superfaturado em 500% (quinhentos por cento). Ficou por isso mesmo. E o sistema de abastecimento d’água Gramame-Mamuaba foi superfaturado em 1.000% (mil por cento), segundo denunciou o Sindicato dos Engenheiros da Paraíba. O caso Gramame-Mamuaba foi levado à Assembleia pelo deputado Simão Almeida, do PCdoB, mas não deu em nada.
O governador do Acre, Edmundo Pinto, foi assassinado dois dias antes de depor na Câmara dos Deputados sobre o superfaturamento do Canal da Maternidade, em Rio Branco. O escândalo deu início à queda do dominó que derribou Collor, mas foi abafado. Nunca os corruptores foram investigados e punidos neste País. O que aconteceu a Celso Daniel, o cartola do PT morto em Brasília?
O instituto da propina, ou comissão, ou bola, tem tradução no inglês, pois é internacional. Além-mar chama-se “pay-off”. É patrimônio da humanidade. Aquém-mar, é jabaculê. Se dá aos políticos, e também aos disc-jóqueis para uma determinada música tocar no rádio. Já é tempo de virar o disco.
*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.