Será que o País do Carnaval vai mesmo declarar guerra à Indonésia?
Otávio Sitônio
Marco Archer não vai mais reincidir. O índice de reincidência entre os apenados brasileiros é de 85%. A pena de morte reduz essa reincidência, e assim reduz a criminalidade. Quem disser o contrário será por burrice ou má fé, ou as duas coisas juntas. É a Medida Preventiva de Reincidência – MPR – defendida por sábios juristas. A única medida que garante a não reincidência. E não reincidência significa redução da criminalidade. Elementar.
Mama Dilma deve pedir desculpas ao governo da Indonésia pelo fato do Brasil ter mandado dois traficantes para lá. Isto é, aqueles que foram detectados e detidos. Um levava 13,4 kg de coca, o outro 6 kg; ou seja, quase 20 kg. Pó rende mais que farofa pura. O Brasil deveria copiar a medida. Mas Mama Dilma disse que ficou indignada e consternada, e chamou o embaixador de volta, para consultas. Só falta um grau para romper relações. Depois, será declaração de guerra.
Mama Dilma disse que a execução do traficante prejudicará as relações dos dois países. Será que o País do Carnaval vai mesmo declarar guerra à Indonésia? Acho que não deve. O País de Macunaíma é o que mais cheira no mundo.
Marco Archer passou 11 anos na cadeia, por força dos trâmites do julgamento. Lá como cá, a justiça é lenta. Mas antes tarde do que nunca.
Conheci um apenado, em liberdade condicional, que toda semana matava um. Só fazia feira quando matava. Ele me disse que só existia uma cadeia, e apontou para o chão. Dia desses um bandido zombou da Justiça depois de condenado, diante da TV. Disse que a pena era grande, mas não perpétua. Que um dia sairia da cadeia.
Depois do fuzilamento de Archer, o governo brasileiro deve subsidiar os traficantes que queiram ir para a Indonésia.
Disse o jornal que o chefão de Marco Archer já foi preso e condenado duas vezes no Brasil. Está em condicional. É o surfista grego Dimitrios Papageorgiou. Ele teria envolvimento também com o outro brasileiro que está no corredor da morte na Indonésia, Rodrigo Muxfeldt Gularte, 42. Rodrigo está com problemas psíquicos, adquiridos em dez anos de cadeia.
Não votei em Mama Dilma para ela defender traficantes. Não digo que perdi o voto porque não havia alternativa.
Em 1965, um golpe de direita, apoiado pelos EUA, executou mais de meio milhão de pessoas na Indonésia, acusadas de simpatizantes do comunismo. Lá, o fuzilamento é cultural.
Mama Dilma pensava que o Brasil e o governo do PT tinham prestígio. Logo depois da Petrobrás… Era de se aplicar essa lei da Indonésia no caso da Petrobrás. O roubo da fazenda pública implica na falta de leitos nos hospitais, de carteiras nas escolas, de ferrovias, de portos, de estradas, na superpopulação carcerária, no déficit de energia, na falta de cacimbas, cisternas e açudes na seca.
A negativa diante de pedidos de clemência para traficantes foi promessa de campanha do Presidente Joko Widodo. Ele não podia voltar atrás. Não se pode estar do lado do povo e do lado do crime. São coisas excludentes. Quem é contra o crime, é a favor do povo.
O fuzilamento do traficante internacional/brasileiro não foi desproporcional. O tráfico traz embutido muito crime. Traz o latrocínio, pois se mata para roubar e comprar drogas; traz o homicídio, pois o tráfico mata quem não lhe paga as dívidas; traz a disputa sangrenta dos territórios; traz a morte de policiais; traz as “balas doidas” que matam civis e crianças.
Sou contra a proporção dos festins para compor o pelotão de fuzilamento na Indonésia: nove festins para três reais. O condenado terá morte mais lenta. Se fosse o contrário, nove reais para três festins, ele desmaiaria logo no impacto, e a morte lhe seria mais rápida. Disse um jornal que Marco Archer só recebeu um tiro. Pior para ele, que demorou mais a morrer.
Se estrangeiros pudessem ser presidentes do Brasil, eu votaria Widodo em 2018.
*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.