Otávio Sitônio
São cinco as principais motivações para a ocorrência do crime no Brasil: necessidade, falsa necessidade, facilidade, desigualdade, impunidade. A necessidade tem diminuído nas últimas décadas, com o desempenho de governos sociais que gerenciaram o Brasil. Houve um sensível aumento do emprego. Em tese, a necessidade diminuiu. Mas isso não se refletiu na redução da criminalidade.
Eis que a falsa necessidade aparece como fator de maior vulto que a necessidade. O comportamento social é condicionado pelo apelo publicitário do “você, novo, compre”. Este escriba já trabalhou longos anos como redator de propaganda, e confessa ao ilustre Leitor que as palavras “você, novo, compre” são obrigatórias na redação de um anúncio, se não explícitas, mas implicitamente.
O consumidor é motivado e direcionado a comprar bagulhos muitas vezes desnecessários, tangido pela obsolescência planejada e pela falsa necessidade – estimulada à saturação pelas campanhas publicitárias veiculadas nos meios de comunicação. Dia desses, tive de explicar à professora de comunicação que “mídia” é a mesma coisa que “meios”, só que a primeira é uma dupla corruptela de “media” – nominativo plural do latim “medium”, ou seja, “meios”.
Os ianques escrevem “the media” e pronunciam “mídia”, para dizer “os meios”. Aí os colonos brasileiros escrevem e pronunciam “a mídia”, cometendo duas corruptelas: a primeira, mudando o gênero da palavra, que é masculina, para o feminino; a segunda, mudando o número, pois em latim é plural, e no português macaqueado do inglês é singular. Por isso, douto Leitor, digo e escrevo “meios”.
Há brasileiros que compram o que não precisam, com seu pouco dinheiro suado e mal contado, tangidos pela falsa necessidade e pela cultura consumista. Como podem? Só roubando. O consumismo e a ostentação são a base da falsa necessidade. Se o consumidor acrescentar ao rol de sua feira o pó, o craque, a maconha, aí a desgraça está feita. Tais iguarias são caras e geram dependência, e são adquiridas na clandestinidade. A falsa necessidade representa 80% dos estímulos criminosos.
A terceira motivação é a facilidade. O dinheiro para a aquisição de drogas e de ícones do consumo está ali, na saidinha de banco, na parada do ônibus, no semáforo fechado, atrás do volante, na casa de família, na caixa registradora. Conheço um vendedor ambulante de frutas que foi assaltado. Tomaram-lhe a féria do dia, pouco mais de vinte reais (dez dólares, sete euros). O roubo de um celular pode facilmente ser convertido em moeda. Diz-se que Dona Dilma quer tirar o papel-moeda de circulação, tornando obrigatório o cartão. Toda operação será registrada, a compra do pó e do roubo
A desigualdade entre a vítima e seu pirata é a quinta motivação. O salteador sabe que sua vítima está desarmada, pois o Estatuto do Desarmamento proíbe o cidadão, trabalhador e honesto, de conduzir uma arma para sua defesa. Só o Estado e os bandidos podem ter armas, o cidadão não. Essa é a grande desigualdade, que faz o representante do Estado pensar que é superior ao cidadão, ao trabalhador, eleitor e contribuinte que paga seu salário com o tributo do sol a sol, e que é submetido ao talante de seu arbítrio e violência.
A impunidade potencia essas quatro motivações. Menos de 10% dos homicidas brasileiros conhecerão a cadeia. Desses, quase todos serão beneficiados pela legislação generosa que os colocará em liberdade para a consecução de novos crimes. Cerca de oitenta por cento reincidirão, pois só a pena capital impede a reincidência. Até o cidadão reincidirá, trabalhando para o mesmo patrão e votando no mesmo chefão de sua dura vida.
Mas esses são os pequenos peixes do crime. Os peixes maiores, organizados, são os que elegem gestores e legisladores, e atacam os cofres públicos com as licitações arranjadas e superfaturadas. Esses criminosos são imunes e impunes. Você pode até ter votado neles.
*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.