Avião é um engenho tão perigoso que cai até na Paraíba. Em 1930 caíram duas belonaves da Força Aérea da Paraíba, na Guerra de Princesa. Uma caiu na Capital, quando se preparava para ir à guerra; outra caiu em Taperoá, em consequência dos tiros que levou no front. Ainda por conta da dita guerra caiu outro (o Laté 28) no Rio da Prata, cheio de dinheiro.
Essa carga era procedente do Uruguai, onde o avião fora buscar a contribuição da Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro (grupo judaico-argentino que subsidiava a campanha do presidente João Pessoa contra a cidade rebelde de Princesa). A Sanbra tinha interesse na guerra, pois visava o algodão da Paraíba, naquele tempo abundante, e que abastecia o cotonifício dos Pessoa de Queiroz, no Recife, primos e adversários do presidente João Pessoa.
Nesse desastre morreu o tenente Antônio de Siqueira Campos, um dos poucos sobreviventes da revolta dos 18 de Forte (de Copacabana), em 1922, contra o presidente Epitácio Pessoa. A tragédia se deu na noite de 10 de maio de 1930. As malas de dinheiro que o Laté 18 conduzia nunca foram achadas.
Depois ocorreram os desastres de Campina Grande do Norte. Na noite de cinco de setembro de 1958 caiu um Curtiss Comando na cidade serrana. O bimotor vinha do Recife para Fortaleza, e tentava pousar no Aeroporto João Suassuna. A visibilidade era pouca, a Serra da Borborema estava embrumada. Depois de várias tentativas de pouso, o Curtiss bateu numa árvore e caiu no bairro de Bodocongó. Conduzia 38 pessoas; sobreviveram 25 e morreram 13. Escapou o futuro comediante Renato (Didi) Aragão, o líder dos Trapalhões.
O primo Hélio tinha arrancado três dentes. Era doador de sangue universal, e correu para o Hospital de Pronto Socorro a fim de doar sangue, onde deixou meio litro. Endemoniado quando bebia, Hélio era uma pessoa de extrema generosidade. Diz a crônica da época que os restos do Curtiss foram alvo de saque por populares É o costume.
Em 28 de julho de 1968, outro avião caiu na Paraíba. Foi o Douglas Globemaster C 124 II. Procedia de Paramaribo, capital do Suriname, para o Recife, conduzindo 10 militares. Morreram todos. O acidente se deu na Serra de Umbuzeiro. Houve saque. Lembro-me de um grande tapete (talvez persa) que vi na parede de uma casa, salvado do acidente.
Na noite de 26 de abril de 1932 morreu o interventor federal da Paraíba, Antenor Navarro, quando o avião que o transportava caiu no litoral da Bahia. Antenor, bom nadador, morreu no mar; escapou o ex interventor Jose Américo, que não sabia nadar.
Outros acidentes envolvendo aviões ocorreram na Paraíba, como o choque de um treinador da FAB – um NA-T6 – com um treinador civil, um Piper Paulistinha, quando os dois tentaram pousar no campo da Imbiribeira. Em frente ao 1º Grupamento de Engenharia, hoje bairro de Tambauzinho. Aí pelos idos de 1953. Não houve sobreviventes.
Outro desastre aéreo que vi foi a queda de um monomotor na esquina do Liceu. O avião tentou pousar no campo de futebol de trás da Faculdade de Filosofia, onde rapazes jogavam e não desocuparam o campo, pois não entenderam a emergência. Sem sobreviventes. Vi ainda o ultraleve que caiu na calçadinha do Cabo Branco. Sem sobreviventes.
Mas o médico Paulo Soares e o governador Ronaldo Cunha Lima sobreviveram à pane seguida de pouso forçado do monomotor em que voavam. O pequeno avião pousou num roçado. O avião tossia, o governador pilheriava. “Avião do PMDB cai e só escapa Ronaldo”.
Em Campina Grande do Sul, Paraná, caiu um avião em 18 de outubro de 2012. Foi um monomotor de instrução. Chocou-se com a serra. Morreram os dois ocupantes.
Serras não voam, mas se chocam com aviões. Como são perigosas!
*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.