Muitas lendas cercam a História da Segunda Guerra Mundial. Entre elas, a da Quinta Sinfonia como senha do Dia D
Otávio Sitônio Pinto
Antigamente corria o boato de que a Quinta Sinfonia de Beethoven(opus 67) teria sido usada como senha da invasão da Normandia pelos aliados, em 6 de junho de 1944. O acontecimento completou 71 anos no sábado passado. O Dia D foi decisivo para a vitória dos aliados na II Grande Guerra. Estava aberta a segunda frente, tão cobrada por Stálin aos aliados. Até então, o peso da guerra caía mais sobre os ombros do povo russo até a derrota alemã em Stalingrado
Hitler perdeu a guerra muitas vezes. A primeira derrota teve lugar na Batalha da Inglaterra, entre 10 de julho e 25 de outubro de 1940. Entre os defensores ingleses foram 544 mortos, mais 40 mil mortos civis, somados a 46 mil feridos e mutilados; do lado alemão, 2.698 militares mortos. Os combatentes alemães tinham de enfrentar os caças da RAF e o fogo antiaéreo; quando atingidos, saltavam de paraquedas ou faziam pouso de emergência sobre território inimigo.
Com a batalha da Inglaterra, Hitler pretendia abater o moral do povo inglês e obter mais uma vitória na guerra da propaganda, mostrando ao mundo a superioridade de suas forças. Mas o tiro saiu pela culatra; aparentemente, a Luftwaffe fora vencida pela RAF, embora esta tivesse o concurso do exército britânico com sua artilharia antiaérea. Os ingleses ainda contaram com a entrada em cena de uma nova arma: o computador, desenvolvido por uma equipe de sábios dirigida por Norbert Wiener, especialmente convocada pelo alto comando inglês com essa finalidade.
A segunda derrota foi o colapso de Stalingrado, considerado a maior batalha da História, com dois milhões de mortos e feridos de lado a lado. A tragédia foi até dois de fevereiro de 1943, quando o marechal de campo Von Paulus entendeu a inutilidade do sacrifício e se rendeu às tropas comunistas. Após o fim da guerra, Von Paulus preferiu morar no lado socialista da Alemanha. Findou seus dias em 1º de fevereiro de 1957, em Dresden, na véspera do 22º aniversário de sua rendição.
Terceira derrota aguardava as forças nazistas: a batalha da África do Norte, terminada em 16 de maio de 1943. Seguiu-se a terceira derrota na Batalha do Atlântico. Por sua vez dividida em duas fases, a guerra de superfície e a guerra submarina, a Batalha do Atlântico foi perdida pelos alemães com o afundamento dos couraçados Graf Spee, no estuário do Rio da Prata, Tirpitz e Bismark, o cruzador de batalha Scharnhorst e outras belonaves menos cotadas. Na guerra submarina, a Alemanha perdeu 804 U-Boats e 29 mil marinheiros de elite.
Essa força submersa tinha por finalidade interromper o abastecimento vindo dos Estados Unidos para a Inglaterra, e assim provocar o colapso das Ilhas Britânicas. Por pouco esse objetivo não foi alcançado. A Inglaterra perdeu nessa luta 40 mil marinheiros, entre mercantes e militares, e dois mil navios, entre mercantes e de guerra. Só no mês de março de 1943 foram afundados 51 mercantes ingleses, perda maior que a capacidade de reposição dos estaleiros.
Após a queda de Stalingado, onde a Alemanha perdeu todos os 300 mil homens do VI Exército, as forças nazistas não puderam mais deter o contra-ataque soviético até a tomada de Berlim – onde seis mil tanques russos entraram a seis de maio de 1945. Em 30 de abril Hitler se suicidou, com uma cápsula de cianureto e um tiro na boca. Seu gesto foi seguido por outros de seus asseclas: alguns mataram os filhos num suicídio coletivo.
A entrada dos Estados Unidos na guerra foi patrocinada pelo próprio Hitler, que declarou guerra ao país norte-americano, logo após essa nação ter sido alvo do ataque a Pearl Harbor – o que provocou a adesão espontânea do povo americano ao esforço de guerra. A indústria ianque estava a salvo das bombas, protegida pelos fossos do Atlântico e do Pacífico. Foi o fiel da balança.
Muitas lendas cercam a História da Segunda Guerra Mundial. Entre elas, a da Quinta Sinfonia como senha do Dia D. É fato que a letra “V” do código morse é composta por três sinais breves e um longo, como as quatro primeiras notas da Sinfonia do Destino. A senha teria sido transmitida por fonia (na BBC) e por morse para a Resistência Francesa. O primeiro movimento da sinfonia é tônico, bem que parece um hino de guerra. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça.
*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.