Otávio Sitônio Pinto
Na Seleção antiga o Brasil tinha craques até no banco. Pois Amarildo substituiu Pelé sem prejuízo
O Eldorado fica em Pontes de Lacerda, localidade perto da Bolívia. Trata-se de uma querência brasileira, no extremo oeste do País do Futebol, ou do Carnaval, para quem preferir. Bem que os antigos diziam que havia ouro para aquelas bandas, e demandavam o oeste em busca do precioso metal. Foi a primeira marcha para o oeste. A segunda foi decretada por Juscelino com a construção de Brasília. Custou-nos a rede ferroviária brasileira, desmontada para satisfazer os fabricantes de veículos automotores. Eles queriam ter a certeza da demanda de carros e caminhões.
O transporte rodoviário é o mais caro do mundo, a gasolina um derivado precioso do petróleo, pela hora da morte. A construção e manutenção de estradas são caríssimas, principalmente as brasileiras, superfaturadas. A construção de qualquer coisa, no Brasil, é muito cara, graças a instituição do jabaculê, ou pixileco – um dos insumos inseridos no custo da produção. Como você sabe, o jabaculê do pixileco é a propina que as construtoras oferecem aos políticos e altos funcionários do governo para a garantia do ganho da licitação, antiga concorrência.
O pixileco do jabaculê vai financiar a eleição do político que estiver no poder. Como adivinhar é difícil, até para os empreiteiros, o pixileco é dado pelo cartel das construtoras aos políticos das duas bandas, governo e oposição, para financiar suas campanhas eleitorais. Dessa forma, o jabaculê garante a sobrevivência do cartel: todas as empresas afiliadas à máfia ganham. E o Brasil paga. O eleitor é também o contribuinte, único contribuinte dessa farra republicana. Daí o alto custo da agenda governamental, seja para construir uma represa, uma estrada ou um campo de futebol.
Por falar em futebol o Brasil perdeu a última copa duas vezes. Uma, quando tomou de 7 a 1 da Alemanha über alles. O que diria o grande Jackson do Pandeiro, se vivo estivesse? Ele cantava, no seu célebre rojão, que “este jogo não pode ser um a um”. E de sete a um, hein, Jackson? A segunda vez que o Brasil perdeu a Copa de 14 foi quando pagou a conta dos estádios e das obras paralelas – ditas de infraestrutura, como os aeroportos, unidades de polícia pacificadoras e quejandos, para receber os gringos de além-mar que vinham ver os jogos.
Viram. Uns vaiaram, outros bateram palmas. Os tedescos levaram no bisaco o sete a um. Nunca haviam ganho um jogo internacional com um escore desses. Nem o Brasil havia perdido. Mas uma vez sempre é a primeira (que seja a última). Não se pode comparar a Seleção de 14 com a Seleção de 58 e 62, com Garrincha, Pelé, Vavá, Didi e Zagalo, Zito, os dois Santos (um em cada lateral), Belini, De Sordi e os que me esqueci. Que me perdoem os heróis salvadores da Pátria. Aquele time era mais que uma Seleção, era uma antologia do futebol. No mundo nunca houve outro.
Era um time na acepção da palavra, uma antologia. O time ganhou a Copa de 62 sem a principal estrela, sem Pelé. Nilton Santos, a enciclopédia do futebol, dizia que o caneco de 62 foi Garrincha que deu a ele. Para não incorrer na polêmica das torcidas de Pelé versus Garrincha, eu já disse e torno a dizer que um foi o maior e outro o melhor. Resta o enigma de 62: o Brasil ganhou sem a principal estrela. Na de 14 perdeu Neymar e foi aquele desastre. Como se o time só tivesse um jogador. Era composto de um só craque, isso sim. Em58 / 62 todos eram craques, até os do banco.
Acho que o melhor de 58 pode ter sido Zagalo, o mais técnico, o de melhor resultado para o time, correndo o campo todo, antecipando-se às jogadas, estando onde estaria a bola, defendendo, armando, fazendo gol. Você que é jovem, veja na Internet os jogos de 58 e 62. Preste atenção a esses três, Garrincha, Pelé e Zagalo. Depois me diga se exagerei. Como eu disse, na Seleção antiga o Brasil tinha craques até no banco. Pois Amarildo substituiu Pelé sem prejuízo. Ninguém acreditava. Só Garrincha acreditou, passando os passes que passava para o Rei, Amarido finalizando.
E o Eldorado? Fica para a próxima crônica.
*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.