dom
26
jul
2015

“Era a juventude que parecia eterna. Nós jamais envelheceríamos, ou morreríamos. A vida era um eterno cantar, dançar e farrar”.

Hoje eu acordei com banzo. Banzo é melancolia, tristeza, saudade dos tempos que se foram e não voltam mais. Eu vivi tempos que se foram e deixaram saudades.Tempos simples,de pés no chinelo, de nadar no açude, de roça, de terra molhada pela chuva, de banho na chuva, de namoro no escuro, de dançar agarradinho, de noites nos braços das putas que nos davam por dinheiro e mais ainda por amor.

Hoje revejo, pela retina da saudade, os assustados no Bar de Bartolomeu, as serenatas ao luar, ao som do cavaquinho de Zé Birrim ou do sax de Manoel Marrocos. O Açude Velho era a nossa praia.Tibungávamos na Pedra Grande, na Pichilinga, no paredão. O Açude Velho que Padre Ibiapina salvou do arrombamento num tempo mais antigo do que o meu tempo e que no tempo que chegou depois, foi transformado no depósito das fossas da cidade pelas mãos de um prefeito irresponsável, e assim mantido pelas mãos mais irresponsáveis ainda dos prefeitos que o sucederam.

Naquele tempo, Princesa era uma linda cidade. A sua principal avenida,que chamávamos de Rua Grande,era toda formada por casas em estilo colonial, dentre as quais se destacavam três belos sobrados e uma mansão que tinha as paredes cobertas com azulejos portugueses.

A padaria de Rafael Rosas ficava em frente à Prefeitura. Subindo dali em direção a velha igreja, destacavam-se a loja de Ferreirão, o Forum onde Nezinho Francelino fazia duetos poéticos com João Rodrigues, depois de beber umas lapadas na budega de Adauto, que ficava em frente; a casa de Seu Ananias que era também hotel, mais adiante a de Antonio Carlos, pegada com as de Zé Sabe Tudo, Parajara, Hermes Maia, até chegar ao famoso Sotão de Manezim Pereira, este fazendo parelha com os sobrados de Antonio Maia e de Aderbal, já perto do Cine Santa Maria dos frades carmelistas, que moravam ao lado no Convento São José. Em frente ao sobrado de Antonio Maia havia uma casa enorme, recuada, protegida por enorme portão de ferro, onde morava Seu Inácio fotógrafo.Na outra esquina, debruçava-se na janela a saudosa Jandira Góes a espera do filho José, que vinha dos Correios, onde trabalhava. Japonês tinha armazém e residência, ao lado dele Elizeu Patriota fazia a mesma coisa.Mais na frente, destacava-se a casa de Gastão Cardoso, linda, suntuosa, cheia de janelas.

A Igreja de três torres e vários altares vigiava a rua, ou melhor, todas as ruas que dela desembocavam, pois tinha três torres exatamente para isso.

Não preciso dizer que quase tudo isso foi demolido. Derrubaram para construir lojas e supermercados.Nem a igreja escapou.

Blog do Tião Lucena


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2 respostas para “Crônica domingueira de Tião Lucena: Como era belo o meu lugar!”

  1. Elizabeth Gomes disse:

    Citou a casa do meu avô Elizeu Patriota. Eita do jeito que acordei hoje. ….saudades dos velhos tempos que não voltam jamais. ….

  2. Elizabeth Gomes disse:

    Maravilhosa crônica. Vivi minha infância em Princesa Izabel. Muito do que foi dito, diz muito a meu respeito. ….

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