Por Eilzo Matos
Está aí na mídia Sitônio Pinto, um escritor de verdade. De mão cheia! Já consagrado. Tem outro, Tião Lucena.
Falo com o jeito do povo dos vales dos rios do Peixe, Piranhas e Piancó, onde moro, desde que nasci no que cobre as várzeas onde circula, ora doce, ora turbulento em descidas íngremes, varando gargantas apertadas – o Peixe. Reunidos para discutir situações, esperávamos e chegava sempre o poeta cangaceiro – nobre na tradição familiar da mesa farta – o incomparável Dr. João Romão Dantas Rothea, de lá também, e marchava pisando duro ora se agachando, velozmente trejeitando sacar armas de fogo, intimidando os circunstantes. Fazia porque podia.
Respeitado na palavra, pelos versos patrióticos como os melhores já escritos em todos os quadrantes, não esquecia o labor ancestral na agricutura, na criação de gado e no cangaço. Soltava o verbo. Os seus versos épicos e valentes cantavam a glória, a guerra:
“O teu povo, estupefato te contempla.
Eu, nativo de tua margem
Leio na soberbia do remanso,
Uma turbulenta história.”
Aí está a origem armada, municiada da opulenta tradição guerreira de Princesa cantada por Sitônio Pinto, na excelência da prosa deste escritor-historiador-poeta que vive na cidade com um revolver na cintura, cheio de balas. Quem sabe e conhece como eu, pode falar assim, mesmo de ouvir dizer.
Dr. João Romão Dantas Rothéa, guardava intocável o orgulho e o ar distinto de uma tradição dominante. No estreito relacionamento social que nos aproximava, eu percebia esse ar conspícuo, guardando o tempero rural do senhor cheirando a mel de engenho cozinhando em taxos de cobre. Pois bem. Tudo era fruto da terra fértil e produtiva na atividade agrícola e pecuária, nascida no “coice das boiadas” que ali chegaram com os mandados pela Casa da Torre para manutenção do morgadio, conforme anotações de Rosilda Cartaxo.
Outros, destacados e respeitados lhe sucederam, como João Bernardo de Albuquerque nas letras e na gestão administrativa e jurídica do Estado. A “Rusga dos Dantas”, de que falam os comentadores do episódio belicoso sertanejo, que embebeu de sangue aquele solo, aquelas várzeas, marcou o espírito intimorato que levou a população paraibana a travar a muito famosa “Guerra de Princesa”.
A história nos fala dessa memória, que ganhou capítulos e títulos na saga paraibana e nacional dos grandes enfrentamentos políticos, na pena de João Lelis. Sem me estender, aludo ao episódio da cidade de Princesa, pro-clamada território livre, separada do Estado da Paraíba. Tudo é narrado de-talhadamente, apoiado em documentos da época, pelo escritor e homem público Aloysio Pereira, filho do coronel e chefe político sertanejo José Pereira.
Tinha que dar guerra, fruto da bravura dos narigudos Dantas Rothea, coetâneos de Marcolino Pereira Lima que nasceu no dia 23 de junho de 1840 em São João do Rio do Peixe, emigrou para São Francisco do Aguiar, depois Piancó, fixando-se finalmente em Princesa.
Chefe político, o seu filho, o coronel José Pereira que herdou suas qualidades e poder, injustamente ferido nos brios de sua liderança, em proclamação e decreto, tornou a sua cidade rebelada um Estado indepen-dente. Uma curiosa e histórica república em pleno sertão paraibano, o que é sabido.
Neles, tudo me lembra o estimadíssimo amigo João Romão Dantas, poeta, doutor e cangaceiro, filho da mesma terra que mandou Marcolino para desenvolver Princesa no comercio, na industria, nas letras, na história, do-minar e praticar o cangaço costumeiro e arreliado em festas e romances pajeuzeiros.
Os lances dessa epopeia cantada em prosa e verso tem no momento, o depoimento pessoal, o registro documental de Aloysio Pereira, médico, político, escritor, memorialista, cidadão indômito, lúcido e provecto representante daqueles tempos, publicado em livro. E nos arroubos de linguagem em prosa e versos evocativos de Sitônio Pinto e Tião Lucena. Eis ai o tempo e a vida: a história.
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