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2024

PJS

José Américo de Almeida foi um intelectual e agente público com atuação plural. Não esteve ligado apenas às atividades político-administrativas e ao universo da literatura. O romancista paraibano percorreu a vida com nuances ligadas aos ensaios, à poesia, às crônicas, à advocacia, à promotoria pública, às atividades jurídicas do TCU, à educação e ensino universitário, ao folclore e à sociologia brasileira, mais especificamente à da Paraíba e à Região Nordeste. A música, porém, também fez parte da trajetória do autor de ‘A Bagaceira’.

Essa proximidade com a música e o resgate da relação do ministro e governador José Américo de Almeida com o maestro paraibano José Siqueira estão no projeto ‘Maestro José Siqueira: memórias da música para o futuro’, um dos sete subprojetos que integram o projeto-geral ‘Preservação da memória e difusão educativa, cultural e científica do acervo da Fundação Casa de José Américo’, em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB).

As pesquisas, em andamento, têm origem nas partituras do maestro José Siqueira preservadas no acervo da FCJA. Entre elas estão alguns poemas de José Américo que foram musicados por José Siqueira em 1975, entre eles estão ‘Meu rastro’, ‘Minha estrela’, ‘Rede’, ‘Infância’, ‘A única voz’ e ‘Estrela do mar’.

A equipe de pesquisadores desse subprojeto, coordenada pela professora Fernanda Rocha (doutora em Sociologia), é composta pela historiadora Suelen Andrade, mestre em Patrimônio Cultural do Iphan, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Dmitri Bichara Sobreira, doutor em História pela Universidade Federal de Minas gerais (UFMG); e pelos bolsistas de graduação Eduardo Campos, estudante de Licenciatura em Música pela UFPB, e Márcio Vinícius Medeiros, estudante de Licenciatura em História, também pela UFPB.

“Vamos resgatar e procurar entender o porquê de um ‘apagão’ cultural e institucional ocorrido acerca do maestro”, destaca a professora Fernanda Rocha, ressaltando que José Siqueira foi alvo de perseguições devido aos seus posicionamentos políticos e por lutar pelos direitos dos trabalhadores e da classe dos músicos. “A ideia é fazer a leitura e o porquê do apagamento da memória do maestro. O que levou ao esquecimento. É significar tudo isso”.

Para a reparação da história relacionada a José Siqueira, na finalização das pesquisas, prevista para março de 2025, será elaborado um livro-dossiê contendo dados da relação de José Américo de Almeida com o maestro nos momentos em que o pesquisado sofreu injustiças e perseguições. “José Américo foi uma espécie de mecenas de José Siqueira”, aponta Fernanda Rocha. Também serão elaborados seminários, exposições e painéis de discussão, além de um guia de fontes de citações sobre José Siqueira, um mapeamento da trajetória do maestro paraibano. “A arte e a cultura são um canal para a democratização”, ressalta a professora.

O ‘Projeto de preservação da memória e difusão educativa, cultural e científica do acervo da Fundação Casa de José Américo’, com coordenação-geral da professora Lúcia de Fátima Guerra Ferreira, é realizado pela FCJA por meio de uma parceria com a Fapesq-PB e tem o apoio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior da Paraíba (Secties-PB).

Importância internacional – José de Lima Siqueira foi um compositor, músico, maestro e acadêmico nascido em Conceição, no Vale do Piancó, na Região do Alto Sertão da Paraíba, em 24 de junho de 1907. Foi um regente e compositor reconhecido em nível internacional, de suma importância como educador, pelo papel de liderança que exerceu no meio musical de sua época e pela participação da criação de várias entidades de classe e culturais, tornando-se uma das figuras de destaque da música brasileira no século XX.

Filho de um mestre da banda Cordão Encarnado em sua cidade natal, que lhe ensinou a tocar diversos instrumentos, como saxofone e trompete. Durante sua juventude, atuou em bandas de música de várias cidades do interior da Paraíba. Foi para o Rio de Janeiro (1927), então capital da República, como integrante das tropas que tinham sido recrutadas para combater a Coluna Prestes e logo ingressou na Banda Sinfônica da Escola Militar, como trompetista.

Estudou (1928-1930) composição com Francisco Braga e Walter Burle-Marx, no antigo Instituto Nacional de Música, e formou-se em Composição e Regência (1933), iniciando sua carreira de compositor e regente no Brasil e no exterior, em grandes orquestras dos Estados Unidos, Canadá, França, Portugal, Itália, Holanda, Bélgica, Rússia, entre outros países.

Regeu nos Estados Unidos grandes orquestras, como a Sinfônica de Filadélfia, Detroit, Rochester. Na França, regeu a Orchestre Radio-Symphonique, de Paris, e, em Roma, a Sinfônica de Roma, entre outras. Foi professor da Escola de Música da Universidade do Brasil, hoje da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fundou a Orquestra Sinfônica Brasileira (1940) e formou-se em Direito (1943).

Viajou pelos Estados Unidos e Canadá e fundou a Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro (1949), fechada dois anos depois. Quando esteve em Paris (1953), frequentou o curso de musicologia da Sorbonne. Oficializou a Orquestra Sinfônica do Recife, a mais antiga do país. Idealizou e criou a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), assumindo a sua oresidência (1960). Fundou a Orquestra Sinfônica Nacional (1961) e a Orquestra de Câmara do Brasil (1967).

Considerado uma figura incomparável do mundo cultural brasileiro, foi aposentado (1969) pela ditadura militar por ter relações com o regime comunista. Proibido de lecionar, gravar e reger no Brasil, encontrou abrigo na extinta União Soviética, onde regeu a Orquestra Filarmônica de Moscou e participou como jurado de grandes concursos de música internacionais. Também foi em Moscou que boa parte de sua obra foi editorada e preservada enquanto que no Brasil o governo militar cuidava de alijá-lo.

Também publicou vários livros didáticos, como ‘Canto Dado em XIV Lições’, ‘Música para a Juventude’, em quatro volumes, ‘Sistema Trimodal Brasileiro’, ‘Curso de Instrumentação’, entre outros.

José Siqueira morreu aos 77 anos, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 22 de abril de 1985, deixando uma vastíssima obra composta de óperas, cantatas, concertos, oratórios, sinfonias e até a música de câmara, para instrumentos solo e para voz. A Cadeira 8 da Academia Brasileira de Música, fundada (1945) por Heitor Villa-Lobos, nos moldes da Academia Francesa, foi designada para ele como cofundador, depois que o efetivo da Academia se reduziu de 50 para 40 cadeiras.

Secom


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