Páscoa da Odebrecht

Os listados continuam à solta, numerosos como uma praga do Egito

Otávio Sitônio Pinto

Por muito tempo ainda se falará na Operação Lava Jato. Será o prato do dia nas esquinas e nos meios de comunicação. Agora apareceu mais um detalhe, como diria Roberto (ou Erasmo) Carlos: a Odebrecht abriu a gaveta e puxou um listão com nomes des pessoas às quais ela deu dinheiro. É gente como o diabo: por enquanto, 316 (trezentos e dezesseis) apaniguados, que receberam a gorjeta da construtora. Número para o IBGE.

Uma parte dessa gente tem foro privilegiado, pois é constituída de mandatários. São deputados, senadores, governadores, promotores, militares etc. Esse povo foi denunciado ao juiz Moro pelo réu Marcelo Odebrecht, dono da maior construtora do Brasil. Os outros apaniguados são fichinhas. Marcelo Odebrecht queria fazer uma delação premiada, para aliviar os 19 anos e meses a que foi condenado pelo mesmo Moro.

Mas o Doutor Moro não acatou a delação de Doutor Marcelo. Conforme se justificou, o listão tem muita gente com foro privilegiado, e ele encaminhou para o Supremo. Era muita areia pra seu caminhão. Nem um caminhão Mack poderia com a lista de Marcelo. Quando éramos meninos nos admirávamos do grande caminhão, absoluto no fim dos anos cinquentas. Era o rei do pós-guerra. Por que a fábrica não quis vir para o Brasil, o maior fabricante de caminhões do mundo? Está-se a precisar. Os listados continuam à solta, numerosos como uma praga do Egito.

Nem um Mack pode com o listão da empreiteira. Nem o Doutor Moro. Nem as grandes emissoras de TV, que não quiseram ler o rol da Odebrecht. Arre égua! Se fosse uma lista composta somente com nomes do PT, já havia saído em várias edições extras, cada qual mais escandalosa. E muitos dos seus nomes – aqueles que não têm foro especial – teriam ganho uma passagem para o Paraná, onde a cadeia de Moro os esperava.

Marcelo (desculpem a intimidade, mas ele é celebridade como Francisco, o Papa; ele é o papa da corrupção) entendeu que não era vantagem dar uma de mártir e ficar calado, enquanto os outros envolvidos na Lava Jato estavam obtendo redução de suas penas. Alguns formam beneficiados com prisão domiciliar, outros ganharam uma tornozeleira eletrônica. Foram para o bem-bom da casa, com direito a seu prato predileto, ao invés da boia castrense.

Por que essa duplicidade de tratamento? Alguns foram para o hotel do governo em Curitiba, outros nem aluíram de seus lugares. Muitos dos que estão acusando os petistas e situacionistas de terem recebido propinas das empreiteiras estão com seus nomes inclusos no listão. Esses acusadores permanecem soltos, esgaravatando os dentes.

Quando eu soube da descoberta dessa lista de notáveis, entendi que a Lava Jato havia constipado, tinha chegado a seu fim. Ela não pode com tanta gente, 316 candidatos a réus são muito devotos para a mesma missa. Mesmo que sejam filtrados os que têm foro privilegiado. Ora, o tuxaua Marcelo não tem mandato; encabeçaria, pois, o rol dos ilustres presos, alguns candidatos à preventiva perpétua – aquela cadeia sem prazo para sair, a que estão sentenciados muitos embastilhados do Paraná.

Cadê as infestações de rua, que não pedem o processo dos contemplados pelo rol da Odebrecht? Eles foram indicados para serem julgados pelo Supremo, pois não presos comuns, digo, não são ralé. A primeira instância não tem competência para processá-los e julgá-los. Bem que os listados da Odebrecht merecem um panelaço, uma homenagem perante o Tribunal no Paraná, ou diante do apartamento do Doutor Moro. Ele bem que merece um dúplex, ou mesmo um tríplex, pelos serviços prestados ao País.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.

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