Palavra de ordem

A presença dos organizadores das manifestações redundou em vaias.

Otávio Sitônio Pinto

 

O Brasil acaba de dar uma lição de democracia ao mundo. Encheu a rua com a multidão pedindo o impedimento da presidente da república e a continuidade das investigações sobre o ex-presidente Lula da Silva. Tudo na maior paz. Nenhum óbito, nenhum ferido, nenhum preso. A multidão formando-se e dissolvendo-se como as grandes massas zen, numa disciplina quase religiosa. Uma diferença gritante (sic) dos tempos atuais e os da ditadura.

Mesmo assim, deslembrados pediram a volta da ditadura, tempo em que não se podia fazer um evento como aquele, nem manifestar sua opinião de nenhuma forma: a imprensa calada, o Congresso amordaçado, os crimes do governo ocultos, os presos políticos nas masmorras. O governo totalitário roubava com as quatro patas, mas ninguém podia dizer nada. Todos os crimes podiam ser atribuídos ao governo gorila, pois todos os seus atos eram ocultos pala noite da censura. Bem diferente do governo atual, de transparência absoluta, onde a Polícia Federal investiga a exaustão qualquer malfeito, seja de que tamanho for. Mesmo assim, o povo pede rigor às autoridades. E é atendido.

Em algumas cidades, como Porto Alegre, deu-se um resultado contrário ao colimado. O povo compareceu ao chamado, mas vestindo camisa de outra cor. Em vez do verde-amarelo da canarinha, o gaúcho preferiu o vermelho dos partidos de esquerda – do PT e do PCdoB. No Rio Grande do Sul foi assim. É o estado mais politizado do Brasil. O Rio Grande foi à manifestação, mas para prestar solidariedade aos dois presidentes populares, Lula e Dilma.

Diz-se que o gaúcho é um pernambucano a cavalo. A recíproca deve ser verdadeira: o pernambucano ser um gaúcho a pé, como devem ser os infantes. No tempo do cangaço era essa forma. Os bandidos embrenhavam-se na caatinga a pé. O pasto era pouco para nutrir os cavalos roubados às fazendas. E a pé a fuga era facilitada, a cabroeira fugia mais facilmente ao som do apito do chefe do bando, ou à detonação dos primeiros tiros. Só não deu para fugir na Grota do Angico, onde os celerados encontraram a morte degolada.

O comparecimento à rua correspondeu ao resultado da última eleição. No Nordeste, a presença popular nas praças e logradouros foi bem menor de que no Sudeste e Centro-Sul, onde os partidos de direita obtiveram bons resultados, com exceção do Rio de Janeiro e de Porto Alegre. Em São Paulo, falhou a tentativa de transformar o evento em comício. A presença dos organizadores das manifestações redundou em vaias. Foi assim com respeito (ou desrespeito) às pessoas de Aécio Neves e do governador Geraldo Alckmin. Nome que antigamente tinha uma pronúncia oxítona, como em José Maria Alckmin, ministro da Fazenda; com o passar do tempo, perdeu o acento.

Muito diferente as manifestações sob o governo da Frente Brasil Popular, se comparadas às passeatas kamikazes dos duros tempos de chumbo. Na época da ditadura as manifestações eram reprimidas a pata de cavalo, dente de cachorro, cassetetes de gorilas, lagartas de tanques e brucutus – aqueles blindados antimotins. Jovens eram arrastados pelas ruas, debaixo de pau, e conduzidos para destino ignorado, nos quartéis e delegacias. Ou simplesmente fuzilados no meio da rua, ou mortos a coronhadas, com suas cabeças esmagadas a coice de fuzil.

Os tempos de ontem e os de hoje não podem ser comparados. O atual governo brasileiro está de parabéns pelo resultado pacífico das manifestações, ou passeatas, realizadas no último domingo. A polícia também foi à rua, mas para garantir o bem-estar dos manifestantes.

Que o mundo veja isso como exemplo de democracia. O Brasil vive um clima de paz e liberdade, transparente como as manhãs que sucedem às noites de chuva.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.

Comentários (1)
Adicionar comentário
  • Repórter ESSO

    O “imortal” Otávio faz uma boa analise sobre dados errados. A passeata anti PT em Porto Alegre teve mais de 100 mil participantes. Em paralelo, houve uma manifestação ‘vermelha” que não chegou a 2000 pessoas. Não seria o Rio Grande falido que iria destoar do resto do Brasil. Gaucho a cavalo ou cangaceiro a pé são vitimas das mesmas pedras no caminho das caatingas em que o Brasil está trilhando por conta dos incendiários vermelhos. E se as passeatas foram pacíficas foi por conta da ausência desses mesmos vermelhos, xiitas e cruzadistas do paraíso dos trabalhadores e da “nova classe” formada nestes 13 anos em nossa republica sindicalista lulo-bolivariana.
    Assim, ilustre escriba Otávio, o credito ao pacifismo é ao povo e não ao governo de plantão, que não ousou confrontar milhões e despertar a fera das massas enraivecidas.