Ela não é corintiana

“No tempo da resistência à ditadura era chique torcer pelo Dínamo, o time do goleiro Yashin, a Aranha Negra”

Otávio Sitônio Pinto

Ninguém sabe por qual time Dilma torce. Se ela fosse uma pupila de Lula, como diz a oposição, com certeza torceria pelo Corinthians. Mas começa e termina campeonato e a presidenta não se manifesta sobre o assunto. Nem quando o Corinthians foi campeão, Dilma demonstrou se o time de Lula era também o seu. Tudo indica que não é, pois ninguém vê uma camisa preta e branca nas manifestações em prol da presidenta, nem vê um detalhe branco e preto naquelas casacas Mao Tsé-tung usadas por Dilma.

O vermelho predomina nas manifestações pró Dilma. Será que a presidenta torce pelo Flamengo? O Mengo e o Corínthians, os times mais populares do Brasil, bem que podiam ser o da Presidenta. Mas a turma do Vasco, como ficaria? O Vasco é alvinegro como o Corinthians. O vermelho das manifestações é do PT e do PCdoB, não tem nada a ver com times de futebol. Ela não vai a campo, nem para ciceronear uma autoridade estrangeira. Ela não torce pelo Barcelona, nem pelo Roma, nem Real Madrid. Tudo indica que Dilma não se interessa por ludopédio.

Faz bem a presidenta em não revelar qual o time de sua predileção, do seu coração. Ela é presidenta de todos os brasileiros, e não apenas dos torcedores de algum clube. Os outros iriam sentir-se discriminados. Ela poderia prejudicar-se eleitoralmente. Mas Lula não se prejudicou. Quem foi que disse que ele não se prejudicou? Fizeram a pesquisa? O Corinthians tem a maior torcida do Brasil, mas se Lula nunca tivesse revelado sua tendência esportiva poderia ter tido vitórias políticas ainda mais expressivas, com a turma do Palmeiras, do Fluminense e do Internacional votando nele.

Uma pessoa que tem acesso à Presidenta me disse que debaixo daquela casaca maoísta ela veste a camiseta de um time, mas ninguém sabe qual é. Será o Dínamo de Moscou? No tempo da resistência à ditadura era chique torcer pelo Dínamo, o time do goleiro Yashin, a Aranha Negra. Chamavam assim porque ele se vestia de preto. E porque parecia ter muitos braços, como um octópode, para agarrar a bola. Era difícil balançar as redes do Aranha Negra. E ele jogou até alta idade, quarentão, como o goleiro Carbajal, do México, e Rogério Ceni, goleiro e artilheiro do São Paulo.

O gol de Yashin era como se tivesse uma teia de aranha tapando as traves. Sim, pois o fio da teia de aranha é o material mais resistente que há no planeta, em relação a seu peso. A natureza ainda não inventou nada igual. Yashin mandava os zagueiros subirem para o ataque; podia-se ver seus grandes braços acenando para a defesa, mandando os beques irem para o campo adversário. Ele sozinho garantia o gol. Por isso, tinha um prestígio internacional, com muitos fãs além das estepes da Rússia. Será que Dilma torcia por Yashin? Leva jeito, pois é militante da esquerda.

Se você tem intimidade com a presidenta, a ponto de saber qual o time pelo qual ela torce, diga a este redator. Mande um e-meio. Foi uma grande invenção este tal de e-meio. Eu tinha preguiça de ir aos Correios postar uma carta, mas agora ficou muito mais fácil escrever cartas e telegramas. E até escrever estes artigos. Já fui para a redação de bicicleta e de motocicleta. A corrente da moto saltou em frente ao jornal; se viesse mais depressa era uma queda na certa, talvez notícia. Mas o e-meio me permite escrever em casa, sem camisa, mesmo falando da Presidenta.

Drummond dizia que carta é presente. É mesmo. Por isso ele respondia toda correspondência que recebia. Menos uma carta que mandei. Era uma carta ripostando uma crônica do poeta, em que ele dizia não saber quem era “um certo Ozório Paes e um incerto Jota Monteiro”, autor e intérprete da modinha “Ó, palidez”. Dias depois sua filha morreu e ele foi empós, acho que por isso fiquei sem resposta. Mas, se você souber por qual time Dilma torce, diga a este cronista. Mande um e-meio. Não faça como Drummond, mesmo que sua vó se encante.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.

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